O Dr. Ribeiro e Castro ganhou o partido, ganhou-o com um espírito renovado, contra o estado vigente das coisas, contra os interesses instalados. Apesar de ser da velha guarda, no congresso de 2005 surgiu como uma lufada de ar fresco, surgiu de novo o velho CDS democrata-cristão contra um neo-liberalismo que se tinha aliado ao PSD em dois anos de governo.Não se tratou de pôr em causa a liderança antiga, ninguém ouviu uma crítica do novo presidente contra o partido dos últimos 7 anos, nem contra os dois anos de governo de CDS que tinham terminado (crítica que seria fácil uma vez que, nessa altura, estava na moda bater na dupla Paulo Portas/Santana Lopes). Essa situação não se justificava, o Dr. Portas tinha sido líder, ganhou o congresso contra a Dra. Maria José Nogueira Pinto, quem perdeu perdeu, teve um período de nojo e depois juntou-se ao novo líder para assim fazer um partido melhor, até ter uma nova oportunidade de demonstrar as suas divergências de fundo e, com toda a legitimidade, fazer valer a sua tese e conquistar a liderança. Essa legitimidade, ganha em congresso, nunca foi aceite "por certas e determinadas pessoas". E faço estas aspas por um motivo muito óbvio, para caracterizar o estado de hipocrisia que se viveu no partido durante os últimos dois anos. É normal que quem de direito não se sinta confortável para dizer estas coisas, no fundo somos um partido de boa gente e se de um lado chove do outro lado não pode trovejar, sob pena de andarmos todos a lavar roupa suja na praça pública. É pena, no entanto, que os mesmos que ficaram tão indignados com a espada de Dâmocles que lhes pairou sobre a cabeça durante dois anos de governação e com o próprio fim do governo PSD/CDS venham agora criar o mesmo estado de espírito que tanto criticaram e querer terminar as coisas precisamente da mesma maneira que o Presidente Sampaio. O Dr. RC foi eleito para um mandato de dois anos, desde o início nunca teve a colaboração dos deputados, desde o início que, em vez de ter todo o partido ao seu lado como teve o Dr. Portas, teve a metade do partido que votou em Telmo Correia contra ele. E o Dr. Paulo Portas, que agora vem fazer um papel de virgem ofendida a dizer que nunca esteve contra o líder, foi o pior dos inimigos, fazendo uma oposição surda sem nunca se assumir, personificando um inimigo sem rosto que corroeu as fundações do partido. Estes senhores preferiram fragilizar o partido para criar a tal "crise interna" e depois o conseguirem tomar de assalto, em vez de ajudar a solidificá-lo e prepará-lo para eleições e ajudar o líder que ganhou o congresso. A meu ver isto só tem uma palavra, TRAIÇÃO." Este é o motivo suficiente para responder à pergunta inicial, poderia estar aqui a discutir ideias, o novo PP contra o antigo CDS, as sondagens, as eleições autárquicas o resultado do aborto, etc... tudo isso são motivos que caiem pela base quando uma situação de fundo se sobrepõe. Podiam existir todos os motivos do mundo para o Dr. RC deixar de ser líder do partido (motivos que eu obviamente não subscrevo), mas qualquer um destes motivos cai por terra quando a fonte destas eleições/congresso é uma questão de traição interna. O CDS não pode nem deve pagar a traidores."
Tiago Pestana Vasconcelos