Três anos, três congressos, a percepção do caos partidário em que nos vemos mergulhados e a certeza clara de que algo terá de mudar. Opte-se por quem se optar, apetece-me dar voz ao aforismo “assim não pode continuar”.
Incapaz de sindicar – para lá da aparência sempre superficial e enganadora – o móbil concreto dos protagonistas deste palco, resta-me ajuizar os actos e, na busca da fundamentação que ancore uma decisão de voto, construir cenários justificativos da clivagem a que assistimos.
Em 2005, Ribeiro e Castro surpreendeu, vencendo, em Lisboa, contra o que era expectável, o congresso que o opunha a Telmo Correia. De então para cá, várias são as vozes que ecoam mostrando as fragilidades da oposição por si liderada. A suposta irrelevância do partido agita-se como uma bandeira e conduz-me à dúvida. Se a inabilidade política do actual líder é de tal modo evidente por que razão se esconderam todos no ano passado, transformando João Almeida no testa de ferro da apresentação de um articulado de ideias materialmente duvidosas? O que se terá agravado desde Maio de 2006? Será que nada, tratando-se unicamente de uma questão de timing pessoal, aliás, impossivelmente disfarçada pela convocação do argumento formalista e erróneo das directas e do termo do mandato castrista?
Mais do que isso, pergunto-me: se nem tudo está bem a quem o devemos? A Ribeiro e Castro e à sua direcção ou àquilo que foi já chamado de antagonismo militante e que, acalmando aqui e ali, nunca se desvaneceu, fazendo lembrar o ataque cerrado aos governos de coligação? Dou por mim a pensar no que teria sido a liderança de Paulo Portas se, em vez do apoio incondicional dos seus pares, tivesse sido vilipendiado a cada instante. E olhem que motivos não teriam faltado se o desejo fosse a queda.
Errare humanum est e ditam a prudência, o carácter, a correcção de comportamentos e a lealdade que as falhas não devem ser sublinhadas em público por quem está do nosso lado.
Preferia ter sido poupada ao espectáculo. Ter-me mantido na ignorância de quem não frequenta assiduamente o Caldas. Quis a vida que assim não fosse. Quiseram alguns fazer da comunicação social o veículo privilegiado de difusão de ideias e críticas que deveriam ficar no recato “familiar”. O resultado parece-me óbvio. Se outros não puderem ser imputados ao comportamento descrito, um afigura-se certo. A confusão. A ausência de clareza na identificação do culpado, seja por haver concorrência de responsabilidades, seja porque o ruído de fundo se tornou de tal modo gritante que impede a serenidade das grandes decisões.
Mas temos de decidir. Tenho de decidir. Ribeiro e Castro ou Portas? O segundo empolgou-me no Independente e cumpriu de forma carismática a sua missão no CDS. O primeiro escreve actualmente a sua história no partido. Os estilos são de tal modo diferentes que impedem a comparação directa. O que cada um trará no futuro é uma incógnita, até porque, com todas as qualidades políticas que possui, Portas nunca conseguiu – numa conjuntura mais favorável que a actual – fazer-nos descolar eleitoralmente. Não aceito a falácia da construção de um grande partido de direita. Porque não o fez durante os sete anos de presidência? E se agora está em condições de cumprir o desiderato, qual o preço que vamos pagar?
Situo-me, portanto, no presente para decidir. É esse o meu tempo, é essa a minha condição. De todos nós.
E, recusando o maniqueísmo da aglomeração dos bons de um lado e dos maus do outro, procuro as causas do divisionismo para, percepcionando-as, me filiar de um dos lados.
Dois podem ser os motivos para a hostilidade portista a Ribeiro e Castro.
Numa perspectiva táctica, nunca houve conformação com a derrota e a passagem do tempo avoluma o fantasma da perda de uma posição de destaque no mundo político de quem muitos dependem para viver. Se esse fosse o motivo da candidatura de Portas, não hesitaria em dar o meu voto a Ribeiro e Castro. Porque devemos servir a política e não servirmo-nos dela; porque recuso o maquiavelismo que arreda a ética, os valores, a tradição dos costumes do horizonte político. Prefiro, pois, não a considerar para, quem sabe ingenuamente, acreditar que é a ideologia e uma visão estratégica para o partido que estão, verdadeiramente, em causa. E considerar, na minha fundamentação discursiva, a primeira, já que é a ela que deve estar subordinada a estratégia e não o invés, sob pena de cairmos, ainda que involuntariamente e para fora, na primeira perspectiva denunciada.
A dualidade sobre que somos chamados a pronunciar-nos reconduz-se, então, e in fine, à oposição entre liberais e democratas-cristãos. O dilema decisório esvanece-se, então. Porque o liberalismo que nos querem impor não é mais do que uma visão esquerdista de abordagem do mundo. Uma visão que, entroncando no individualismo radical, olvida a pessoa humana e toda a sua dignidade. Uma visão que encerra o homem na des-solidariedade potenciadora do arbítrio. Uma visão que esmaga a responsabilidade e a solidariedade, transformando o homem no predador do seu semelhante. Uma visão que resvala no relativismo, no nihilismo.
Se é esse o preço a pagar para ter um grande partido, não aceito. Prefiro o orgulho de pertencer a um pequeno partido convicto, guardião dos valores em que me revejo, do que a falência ética que me querem vender. Prefiro o orgulho de, num momento de tristeza, ver o líder do meu partido afirmar sem medo a nossa fidelidade na defesa da vida e da família ao facilitismo de quem, contagiado pelos ventos da pós-modernidade, pós-metafísica e pós-secularidade, acha que o partido se torna rebarbativo, antiquado e pouco sexy se não abrir as portas aos casamentos homossexuais, se não abdicar do combate pela vida, se se mantiver como o guardião de tudo aquilo que sempre nos uniu sob a marca do personalismo.
Dir-me-ão que Portas não pensa assim. Não pensava no passado, é certo. Mas aí esbarro num obstáculo. Portas cumpriu-se integralmente no partido. Fê-lo até ao ponto de considerar que devia ir embora pelo seu pé. Esgotou-se. Volta agora, supostamente renovado. E temo que a renovação seja, afinal, a perdição.
Incapaz de sindicar – para lá da aparência sempre superficial e enganadora – o móbil concreto dos protagonistas deste palco, resta-me ajuizar os actos e, na busca da fundamentação que ancore uma decisão de voto, construir cenários justificativos da clivagem a que assistimos.
Em 2005, Ribeiro e Castro surpreendeu, vencendo, em Lisboa, contra o que era expectável, o congresso que o opunha a Telmo Correia. De então para cá, várias são as vozes que ecoam mostrando as fragilidades da oposição por si liderada. A suposta irrelevância do partido agita-se como uma bandeira e conduz-me à dúvida. Se a inabilidade política do actual líder é de tal modo evidente por que razão se esconderam todos no ano passado, transformando João Almeida no testa de ferro da apresentação de um articulado de ideias materialmente duvidosas? O que se terá agravado desde Maio de 2006? Será que nada, tratando-se unicamente de uma questão de timing pessoal, aliás, impossivelmente disfarçada pela convocação do argumento formalista e erróneo das directas e do termo do mandato castrista?
Mais do que isso, pergunto-me: se nem tudo está bem a quem o devemos? A Ribeiro e Castro e à sua direcção ou àquilo que foi já chamado de antagonismo militante e que, acalmando aqui e ali, nunca se desvaneceu, fazendo lembrar o ataque cerrado aos governos de coligação? Dou por mim a pensar no que teria sido a liderança de Paulo Portas se, em vez do apoio incondicional dos seus pares, tivesse sido vilipendiado a cada instante. E olhem que motivos não teriam faltado se o desejo fosse a queda.
Errare humanum est e ditam a prudência, o carácter, a correcção de comportamentos e a lealdade que as falhas não devem ser sublinhadas em público por quem está do nosso lado.
Preferia ter sido poupada ao espectáculo. Ter-me mantido na ignorância de quem não frequenta assiduamente o Caldas. Quis a vida que assim não fosse. Quiseram alguns fazer da comunicação social o veículo privilegiado de difusão de ideias e críticas que deveriam ficar no recato “familiar”. O resultado parece-me óbvio. Se outros não puderem ser imputados ao comportamento descrito, um afigura-se certo. A confusão. A ausência de clareza na identificação do culpado, seja por haver concorrência de responsabilidades, seja porque o ruído de fundo se tornou de tal modo gritante que impede a serenidade das grandes decisões.
Mas temos de decidir. Tenho de decidir. Ribeiro e Castro ou Portas? O segundo empolgou-me no Independente e cumpriu de forma carismática a sua missão no CDS. O primeiro escreve actualmente a sua história no partido. Os estilos são de tal modo diferentes que impedem a comparação directa. O que cada um trará no futuro é uma incógnita, até porque, com todas as qualidades políticas que possui, Portas nunca conseguiu – numa conjuntura mais favorável que a actual – fazer-nos descolar eleitoralmente. Não aceito a falácia da construção de um grande partido de direita. Porque não o fez durante os sete anos de presidência? E se agora está em condições de cumprir o desiderato, qual o preço que vamos pagar?
Situo-me, portanto, no presente para decidir. É esse o meu tempo, é essa a minha condição. De todos nós.
E, recusando o maniqueísmo da aglomeração dos bons de um lado e dos maus do outro, procuro as causas do divisionismo para, percepcionando-as, me filiar de um dos lados.
Dois podem ser os motivos para a hostilidade portista a Ribeiro e Castro.
Numa perspectiva táctica, nunca houve conformação com a derrota e a passagem do tempo avoluma o fantasma da perda de uma posição de destaque no mundo político de quem muitos dependem para viver. Se esse fosse o motivo da candidatura de Portas, não hesitaria em dar o meu voto a Ribeiro e Castro. Porque devemos servir a política e não servirmo-nos dela; porque recuso o maquiavelismo que arreda a ética, os valores, a tradição dos costumes do horizonte político. Prefiro, pois, não a considerar para, quem sabe ingenuamente, acreditar que é a ideologia e uma visão estratégica para o partido que estão, verdadeiramente, em causa. E considerar, na minha fundamentação discursiva, a primeira, já que é a ela que deve estar subordinada a estratégia e não o invés, sob pena de cairmos, ainda que involuntariamente e para fora, na primeira perspectiva denunciada.
A dualidade sobre que somos chamados a pronunciar-nos reconduz-se, então, e in fine, à oposição entre liberais e democratas-cristãos. O dilema decisório esvanece-se, então. Porque o liberalismo que nos querem impor não é mais do que uma visão esquerdista de abordagem do mundo. Uma visão que, entroncando no individualismo radical, olvida a pessoa humana e toda a sua dignidade. Uma visão que encerra o homem na des-solidariedade potenciadora do arbítrio. Uma visão que esmaga a responsabilidade e a solidariedade, transformando o homem no predador do seu semelhante. Uma visão que resvala no relativismo, no nihilismo.
Se é esse o preço a pagar para ter um grande partido, não aceito. Prefiro o orgulho de pertencer a um pequeno partido convicto, guardião dos valores em que me revejo, do que a falência ética que me querem vender. Prefiro o orgulho de, num momento de tristeza, ver o líder do meu partido afirmar sem medo a nossa fidelidade na defesa da vida e da família ao facilitismo de quem, contagiado pelos ventos da pós-modernidade, pós-metafísica e pós-secularidade, acha que o partido se torna rebarbativo, antiquado e pouco sexy se não abrir as portas aos casamentos homossexuais, se não abdicar do combate pela vida, se se mantiver como o guardião de tudo aquilo que sempre nos uniu sob a marca do personalismo.
Dir-me-ão que Portas não pensa assim. Não pensava no passado, é certo. Mas aí esbarro num obstáculo. Portas cumpriu-se integralmente no partido. Fê-lo até ao ponto de considerar que devia ir embora pelo seu pé. Esgotou-se. Volta agora, supostamente renovado. E temo que a renovação seja, afinal, a perdição.
Mafalda Miranda Barbosa