Há três critérios relevantes para decidir em quem votar numas eleições internas de um partido: as ideias políticas, claro; a forma como os candidatos se propõem defendê-las; e a credibilidade que cada um tem para congregar pessoas e convencer o eleitorado.
Seguindo estes critérios, a minha escolha é José Ribeiro e Castro.
Primeiro, porque lhe conheço as ideias e porque, partindo do princípio de que no essencial todos estamos de acordo, me revejo nas suas prioridades. Desde logo, na de consolidação de uma base doutrinal estável, agregadora das várias tendências existentes no partido (conservadora, liberal e democrata-cristã) e capaz de contrastar com a social-democracia dominante. Um partido de direita só é útil se defender valores de direita. É descabido querer conquistar o vizinho quando ainda nem sequer se ganhou a família. Por isso, a ideia de concorrer com o PSD, com as armas e no terreno do PSD, é absurda. Mas as prioridades de Ribeiro e Castro não se ficam apenas pelas “abstracções” da estratégia e da doutrina. No campo das “questões que preocupam os portugueses no dia-a-dia”, é prioridade, por exemplo, a redução do peso do Estado, a redução dos encargos do Estado e a redução da carga fiscal imposta pelo Estado. Propostas “práticas”, que me interessa ver defendidas, e que Paulo Portas, enquanto número dois de uma coligação que governou o país durante quase três anos, nunca pôs em prática. Talvez por isso Portas aposte agora mais na “cultura”, na “ciência” e no “ambiente”. Ideias novas, ideias diferentes? Nem uma coisa nem outra. Paulo Portas tem-se limitado a fazer meras enunciações. Diz “cultura”, “ciência” e “ambiente”, mas não passa daí. O que pensa Portas nestas matérias é algo que ainda não sabemos. Não sabemos, por exemplo, como vai pegar nas “questões ambientais”; se vai ser alGoreano e pregar o apocalipse climatérico? Se vai exigir o cumprimento rigoroso dos irrealistas limites de Quioto? Ou se vai apenas tentar “sensibilizar” as pessoas? Também não sabemos o que é que quer dizer quando afirma que Portugal deve ser “um espaço cosmopolita de cultura”. Será que vai propor a subsidiação da cultura cosmopolita? A exportação da cultura cosmopolita? A obrigação do cidadão de consumir cultura cosmopolita? Não sabemos. E como não sabemos, nem sequer podemos elogiar ou criticar de forma substancial. Nem as novas prioridades nem as “velhas” ideias, pois também não nos foi explicado quais destas, para si, ainda se mantêm válidas...
Segundo, porque prefiro a forma de fazer política de Ribeiro e Castro à de Paulo Portas. Paulo Portas é um agitador mediático, excelente em soundbites e trocadilhos noticiáveis, mas menos bom a fazer passar mensagens consistentes. É um coleccionador de grandes momentos efémeros. Uma espécie de “5 minutos de fama” todos os dias. Telegénico, mas cansativo. E, no fim de contas, contraproducente. Ao invés, Ribeiro e Castro tem tentado - com falhas, é certo - falar de política e de políticas. Por ter um estilo pouco show friendly, é menos assíduo nas televisões e manchetes de jornais. Mas não se pode sentenciar que seja menos eficaz. De Portas sabemos que, com todos os palcos do mundo, teve apenas 7%. Não foi, pois, eficaz. A Ribeiro e Castro devemos a oportunidade de poder dirigir o partido sem ter que constantemente perder tempo a gerir sensibilidades internas. E, já agora, a possibilidade de disputar umas eleições legislativas onde possa provar os votos que vale.
Finalmente, porque considero que, neste momento, tanto para dentro como sobretudo para fora do partido, Ribeiro e Castro é a escolha mais credível. Paulo Portas, ao chefiar na calada uma facção de duvidosa competência política, que durante dois anos tudo fez para enfraquecer o líder do partido a que pertence, desacreditou-se; ao voltar a meio de um mandato do seu sucessor, subvertendo as regras instituídas, descredibilizou-se; ao não explicar de forma minimamente consistente o que é que mudou entre 2005 e hoje que justifique tão abrupto regresso, desvirtuou-se. Não é um ataque ou sequer uma crítica, mas sim uma fria constatação de factos. O CDS, se quiser crescer, tem que atrair gente. Gente para integrá-lo e gente para nele votar. A um Paulo Portas refém dos guardiães do “portismo”, dificilmente alguém se junta. Num Paulo Portas reloaded não se sabe bem de quê e rodeado dos actores secundários de sempre, sensatamente, poucos votam. Já José Ribeiro e Castro tem feito um esforço sério e com resultados para alargar o partido e trazer outra gente para a política. Novos e velhos, conservadores e liberais, profissionais de várias áreas que não precisam de cargos para nada. Um esforço não sindicável por sondagens mas crucial para fazer crescer o CDS-PP. E que por isso não pode, em nome dos caprichos de um militante aborrecido, ser interrompido a meio do caminho.
Tendo em conta que os partidos vivem de votos e que os votos são um crédito, a credibilidade é, em última análise, o critério que mais interessa. A escolha de amanhã é entre um político que se desacreditou pelas asneiras que cometeu no passado recente, e um outro que até prova em contrário – ou seja, até disputar as eleições legislativas a que legitimamente ganhou direito em dois congressos consecutivos – merece, no mínimo, o benefício da dúvida.
Eduardo Nogueira Pinto