sexta-feira, 23 de março de 2007

A factura a pagar pelas novas gerações...

É já impossível negá-lo. A crise no CDS-PP é fracturante! Mesmo não se promovendo nenhuma cisão, estou consciente de que depois disto muito se vai alterar no partido, mas felizmente muito se vai manter igual. Só com muito trabalho se conseguiria destruir o que foi sendo erguido pelo Dr. Ribeiro e Castro ao longo deste tempo que leva no leme do partido.

O CDS-PP hoje é mais uma partido de âmbito verdadeiramente nacional, com o que isso implica. Estar presente em todo o território, estar activamente presente. Mas o CDS-PP foi a meu ver mais que isso, foi um partido que demonstrou trabalho, porque hoje é um partido que estuda os dossiers, fruto do trabalho da CPN e do Conselho Económico e Social, é um partido coerente, que afirma à Quinta-feira o mesmo que já disse à Segunda. Somos hoje um partido confiável, seja no desafio do combate pela vida, na perspectiva da construção de um Portugal visto como um todo e os portugueses como iguais, compreendo sempre as especificidades de cada um. Somos um partido onde a modernidade se discute e se pratica.

Infelizmente o modelo não é tão seguido como deveria ser por toda a estrutura. Pergunto, quantas das estruturas que agora aparecem com grande alarido a tentar gritar mais alto que apoiam um dado candidato - como que se tivessem medo que o apoio não fosse ouvido – pergunto eu, quantas dessas estruturas ouvimos nos últimos dois anos tomar posições sobre as suas regiões, sobre os seus distritos? Quantos durante este tempo, se preocuparam tanto em dizer que não havia oposição de direita no nosso país, se dirigiram aos seus concidadãos, apresentaram propostas, lançaram ideias? Quantos recorreram ao gabinete autárquico do partido? Afinal, não é para isto que serve a actividade política? Durante estes dois anos, o que fomos assistindo, com evidentes excepções, foi ao facto de se pretender estar numa dada concelhia, distrital, apenas para terem uma rampa de lançamento para sonhos maiores.

Como militante sinto também que o partido se encontra aberto ao debate. Exemplo disso é a questão europeia, questão essa que para mim não está encerrada neste partido. Já tomámos várias posições, já fizemos um referendo interno sobre o assunto, e para mim o CDS-PP não é um partido euro-calmo ou euro-céptico conforme a disposição do líder. São os militantes que têm de discutir, reflectir e dar pistas sobre o discurso ou discursos a adoptar. A história do partido não vai a reboque das conveniências dos líderes. Essa questão para mim não está encerrada, e agrada-me ver que o partido vai reflectir esse assunto com painéis de grande qualidade já amanhã em Lisboa.

Este é o exemplo de actividades que ajudam o partido a crescer. Este é também o caminho que sabemos todos que não dá notícias de abertura dos telejornais, mas é o caminho que vai permitindo consolidar uma imagem de credibilidade, seriedade, e competência.

Depois do que aconteceu em Óbidos muitos têm sido na comunicação social os profetas da desgraça que vão anunciando a morte deste partido. Convenhamos se o CDS o PP e o CDS-PP tivessem morrido tantas vezes quantas a sua morte já foi anunciada éramos o partido milagroso, tal o número de vezes que já ressuscitámos. Porém há que ter noção de que o que se passou – e ainda se vai passando – tem um custo para este partido. Sobretudo para quem pense em permanecer.

Serão as futuras gerações a ter de viver com esta factura. A questão é, estarão as futuras gerações do partido à altura do desafio de consolidar e melhorar os níveis de aceitação do partido na sociedade portuguesa, ou dito de outra forma, conseguirão os mais novos dar uma imagem tal que permita ao partido crescer? Diria que isso dependerá do estilo e da estratégia a utilizar. A verdade é que os que hoje passam a vida a lamentar a pesada herança para as novas gerações no que toca ao país, são os primeiros a dentro de casa ter atitudes menos dignas. Fazer o que apetece, ter comportamentos do género claque de futebol, desrespeitar os demais militantes do partido, assumindo que a participação na vida do partido só constitui direitos, e que não há nenhum dever, é tudo menos algo próprio de uma juventude democrata-cristã e conservadora e de todo não se compadece com uma juventude com valores.

Felizmente há mais jovens para além daqueles que sempre se fazem representar pela cota oficial, é verdade porque aqueles que tanto falam em meritocracia, em respeito conquistado e não dado, são os primeiros a requerer tratamento especial e desculpabilização em tudo. Seja para apresentar moções ao congresso – não se afirmando como candidatos, mas dizendo que saberão interpretar os resultados e fazendo campanha para que a interpretação lhes convenha - seja para se fazerem representar nos órgãos decisores do partido, mesmo sendo os primeiros a agitar as águas.

Mas há outros jovens, uma certa maioria silenciosa, que não tem direito a fazer-se representar na cota, porque também não precisa da cota para trabalhar motivadamente por um projecto, por um certo ideal de partido em que nem todos estão sempre de acordo, mas que todos podem respeitar porque todos têm direito a ser ouvidos, a ser recebidos. Esta maioria saberá responder presente quando para tal for chamada. Esta é uma juventude que sabe exactamente por onde quer ir, que tem um projecto para o futuro, mas que não renega o passado, respeitamo-lo, todo, de Freitas a Monteiro, de Adriano a Portas, todos tiveram o seu importante papel nesta casa. É com o legado deles que ficamos, e seguimos até 2009!

Tiago Antão