quarta-feira, 11 de abril de 2007

Marca CDS

Quem lida ou lidou com direitos de Propriedade Industrial sabe como, muitas vezes, uma marca transcende a mera função de assinalar um bem ou serviço. Ganha notoriedade e identidade próprias, veiculando por si só ideias e conceitos que não precisam de mais explicação que a sua simples nomeação e/ou amostragem.

Mas quem já trabalhou nesta área também sabe como é fácil e rápida a destruição da boa imagem de uma marca. Como basta um desvio daquilo que é entendido como aceitável, como comportável, pela significação ínsita nessa marca para que esta perca a força que a caracterizava.
O risco do seu uso inapropriado é, precisamente, o de desvirtuar aquilo que se lhe associa. De banalizar, de trivializar ou de negar o que ela acompanha. De fazer cessar o elemento diferenciador e de transformar numa amálgama de mensagens nem sempre coerentes, nem sempre proveitosas, o que dantes fora uma frutífera afirmação de identidade.

Com os partidos políticos passa-se exactamente o mesmo. A mera exibição dos seus símbolos implica noções e significações que o público apreendeu há muito. A sua identidade contém acepções, referências e imagens que perduram para além das lideranças, que vão muito para lá do circunstancial. E ainda bem.

A marca CDS é uma dessas. Uma das quatro marcas fundadoras da democracia portuguesa. Impressa de forma indelével no código genético da III República em que vivemos.

Sem ela, o país seria, seguramente, mais desequilibrado para a esquerda. Sem ela, a adopção pelo Portugal pós-revolucionário de uma constituição de tom e pendor marxizante teria sido facto indisputado. Sem ela, a luta pela liberdade individual, pelos mais elementares direitos da personalidade, pela propriedade e iniciativa privadas teria sido mais difícil, senão impossível. Sem ela, o centrão ter-se-ia instalado de modo inapelável, revisitando o rotativismo novecentista de má memória e frustrando todos aqueles que, à direita do centro, não tivessem desistido de pensar.

Apesar das múltiplas oscilações, retrocessos e bifurcações do seu caminho, a marca CDS é identificável. Reconhecível. Apreensível por todos os que com ela se cruzam.

Adriano Moreira alertou há pouco tempo, como o fez já tantas vezes, para o risco que o CDS corre em alienar o “eixo da roda”, o núcleo de valores e princípios que são perfilhados, identificados e identificáveis com o partido. Recordou que é a constância destes valores e princípios que permite ao CDS percorrer todos os percursos. São eles que lhe concedem a possibilidade de uma abordagem simultaneamente estruturada e versátil a todos os escolhos e dificuldades da sua viagem. E que he conferem a autenticidade que os outros respeitam e reconhecem.

Em Abril de 2005, um CDS derrotado, exangue, falido e abandonado deu um passo nesse sentido. Rejeitou permanecer na senda do “nego amanhã o que defendi hoje” e optou por regressar a esse eixo. À matriz fundadora. À marca credível. Segura. Séria. Coerente. Fiável. E os resultados estão à vista de todos. Mesmo daqueles que recusam ver.

Há quem prefira trocar o caminho da reconstrução interna, da capacidade de proposta e da segurança doutrinária pela tradução em calão de slogans alheios. Quem escolha desdizer-se uma vez mais. Quem decida que o poder pelo poder passou a ser o objectivo. E a usar a marca CDS nesse projecto de ambição nua e crua. E, muito provavelmente, a acabar com ela.

Para isso basta que vingue a ofensiva fora-da-lei de Paulo Portas reloaded. Esta, como todas as suas anteriores encarnações, teima em tropeçar nas antecedentes. E a não bater certo.

Pela minha parte, tenho demasiado respeito por quem fundou, defendeu e construiu este partido para permitir que a sua marca, a sua identidade, seja adulterada ao ponto de se negar e de já não significar o que quer que seja. Vale a pena lutar contra isto. Pelo CDS e, sobretudo, por Portugal.
Eu acredito!

JV